domingo, 4 de maio de 2008

O computador e o virtual

1. O computador em rede global
A ferramenta da globalização planetária é o computador em rede. Na opinião de Pierre Lévy, no livro "Cibercultura", O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da rede universal calculante. Em certo sentido, há apenas um único computador, mas é impossível traçar seus limites, definir seu contorno.
Assim, o computador evoluiu em sua capacidade de armazenamento de informações, que é cada vez maior, o que possibilita a todos um acesso cada vez maior a informação. Isto significa que o computador agora representa apenas um ponto de um novo espaço, o ciberespaço. Essas informações contidas em computadores de todo mundo e presentes no ciberespaço, possibilitam aos usuários um acesso à novos mundos, novas culturas, sem a locomoção física. Com todo este armazenamento de textos, imagens, dados, etc. Pela lógica do mais fácil, porém não real, o virtual
2. Conceito de virtual
Há muitas concepções de virtual. Algumas das definições mais comuns são estas:
-Algo que é apenas potencial ainda não realizado (a definição histórica). Virtual referir-se-ia a uma categoria tão verdadeira como a real. O virtual não seria oposto ao real. O virtual pode ser oposto ao actual, porque o virtual carrega uma potência de ser, enquanto o actual já é (ser). Algo que não é físico.
- Algo que não é concreto. Virtual é tudo aquilo que não é palpável, i. e, geralmente alguma abstracção de algo real. Ex.: uma fotografia pode dizer que é virtual. Com o desenvolvimento das comunicações computorizadas em rede, se popularizaram os termos "virtual" e "virtualidade".
-Popularmente, chama-se "virtual", tudo aquilo que diz respeito às comunicações via Internet. "Virtual" implica o conceito de uma simulação, o que nem sempre é verdade. Em muitos casos de expressões como "amigo virtual" ou "universidade virtual" o adjectivo "remoto" ou "à distância" se encaixaria com mais propriedade.
3. Tudo é virtual?
Um dos mais conhecidos autores a tratar do tema é o francês Pierre Lévy. Em seu livro "O que é o virtual?", ele define: "O virtual não se opõe ao real, mas sim ao actual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objecto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a actualização." (LÉVY, 1996, p.16).Lévy compara o virtual a um problema muito complexo ou a um acontecimento que precisa de uma solução. Esta solução é proporcionada pela actualização, que vem a ser o inverso da virtualização. Completando seu raciocínio, diz que a virtualização consiste em uma passagem do actual ao virtual, em uma "elevação à potência" da entidade considerada. O autor afirma que "a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado, por sua vez, de virtus, força, potência. O virtual tende a actualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização efectiva ou formal", ou seja, é algo que não existe na forma física.Pode-se afirmar que o virtual é uma realidade que veio facilitar a vida do ser humano, pois através do virtual, que se encontra num suporte material (o computador), é possível obter várias informações (interagir) com outras pessoas. Em Pedagogia é frequente o uso de "virtual" na designação de sistema de colaboração em rede. Como em "ambientes virtuais de aprendizagem", por exemplo. Em informática, é muito usado para designar sistemas de animação tridimensional em tempo real: realidade virtual. "Virtual" também é um termo usado largamente para designar qualquer relacionamento mediado por redes de computador. A mídia de informática, principalmente, ajuda a popularizar a "virtualidade", porque é uma palavra que sempre chama atenção.O termo “realidade virtual” se popularizou a partir de 1989, cunhado por Jaron Lanier. Segundo ele próprio: "Eu originalmente me aproximei do termo como uma reacção ou uma resposta a um termo que já estava por aí. Tinha um cara chamado Ivan Sutherland – ele é o pai da computação gráfica – e ele usava o termo 'mundos virtuais', o qual na verdade remete a uma filósofa das artes chamada Suzanne Langer. Ela falava sobre mundos virtuais nos anos 1950, antes que houvesse tecnologia para imaginá-los; ela estava usando o termo como uma metáfora".

-Suzanne Langer, uma filósofa da música, descreveu estas concepções de virtual. Para ela, olhando um quadro figurativo criaríamos em nossas mentes um "mundo virtual". Um quadro de paisagem criaria aquela paisagem em nossa mente. Este tipo de operação mental (representações em nossa mente causadas por fenómenos externos) foi explicado por Charles Sanders Peirce há mais de cem anos, ao definir a Semiótica como a ciência dos signos. Para ele, signo, como o símbolo é algo que está no lugar de outra coisa, representando algo para alguém. Um quadro de paisagem estaria no lugar da paisagem real, por exemplo. Representaria a paisagem, seria um signo icónico, a representação é realidade virtual.
4. Virtualidade como fenómeno
Pelo conceito de semiose, a concepção metafórica de "virtualidade" o cérebro forma "um mundo virtual", é apenas mais um nível da semiose. Não haveria, então, um "outro mundo" dentro de nossas cabeças, mas apenas um nível de significação fazendo parte da cadeia semiótica. Além disso, concepção mental não é algo irreal, "virtual", porque nossos pensamentos são coisas reais e materiais: pelo que se sabe do cérebro Quando pessoas se encontram ao vivo, elas só sabem da presença da outra pelos cinco sentidos do ser humano.
-Visão: Vemos outra pessoa graça à luz. Então somos mediados pela luz. Não vemos a outra pessoa, vemos a luz que reflectiu nela e chegou às nossas retinas.
-Audição: Não ouvimos a pessoa: ouvimos as vibrações no ar feitas pela outra pessoa.
-Olfacto, gustação e tacto Podemos sentir o cheiro da pessoa. Mas o que sentimos são informações nervosas desencadeadas por substâncias exaladas pela outra pessoa e que chegam ao nosso sistema olfactivo. Da mesma forma, o tacto e a gustação.
5. O que não é virtual?
Uma interacção "ao vivo", então, é mediada pela luz e pelo ar. Nas interacções por computador, estes dois meios são traduzidos mais algumas vezes: a luz e o som são transformados em impulsos eléctricos, depois digitalizados, transformados em orientações magnéticas (nos disco de computador), em energia eléctrica (nos circuitos electrónicos), em luz (nas fibras ópticas), em ondas electromagnéticas, etc., e descodificados novamente na outra ponta da comunicação. O que aconteceu, na verdade, foi traduzir algumas vezes a informação, mediar mais algumas vezes uma mediação que já existia. Toda interacção é mediada, não importa sua natureza. Isto acontece com pessoas ou com qualquer outra coisa no universo. Não existe, a rigor, diferença entre uma interacção ao vivo e uma interacção por computador, a não ser na forma de maior resolução e qualidade da mediação. Uma interacção ao vivo tem maior resolução, maior quantidade de informações que uma mediação por computador. Mas também é mediada. Sendo ambas interacções mediadas e tendo ambas a mesma natureza, como todas as mediações, não faz sentido diferenciá-las, a não ser pelo nome da mídia: interacções ao vivo, interações online, por exemplo.
Conclusão: Em Pedagogia, Informática e Comunicação, os termos "virtual" e "virtualidade" são definidos imprecisamente ou impropriamente e não explicam a natureza dos fenómenos em que são aplicados. Como significado oposto ao real, não devem ser usados porque todas as interações que existem no universo são reais, inclusive a imaginação. Ou, visto pelo ângulo da Semiótica, todos os fenómenos do universo são significações. Como significado de simulação ou de interações por redes de computadores, "virtual" não deve ser usado porque leva à confusão com o uso histórico do termo. Existem opções mais precisas: ambiente on-line ou ambiente simulado são bem mais explicativos que "ambiente virtual". Realidade simulada, melhor que "realidade virtual". Como metáfora de sala de aula presencial, é desnecessário, pois a função da metáfora seria explicar algo complicado, e, hoje, praticamente todo mundo entende o que é comunicação via internet sem necessidade de metáfora.

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