segunda-feira, 12 de maio de 2008

Discurso religioso nos mídias ( RÁDIO E TV )

O assunto “Meios de Comunicação Social, (Rádio e Televisão)” na Igreja Católica vem sendo discutido pelo Magistério da Igreja desde os primeiros anos de existência destes veículos.Só para fazer um rescaldo histórico, o primeiro a pronunciar-se sobre o assunto foi o Papa Pio XI. Preocupado com a educação das novas gerações publicou a CARTA ENCÍCLICA DIVINI ILLIUS MAGISTRI ( ACERCA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ DA JUVENTUDE) a 31 de Dezembro de 1929.Nesta carta o Romano Pontífice, alerta a Igreja Universal sobre a necessidade de novos métodos para a evangelização. Sete anos mais tarde o mesmo publicava uma outra CARTA ENCÍCLICA VIGILANTI CURA, de 29 de junto de 1936, pedindo que os Bispos e Presbíteros estivessem vigilantes ante o novo fenômeno da Comunicação. No capitulo quarto que fala do cinema e a moral cristã, citando a encíclica Divini illius magistri diz: lamentamos "que tais poderosos meios de divulgação, que podem ser, quando inspirados por princípios sãos, de grande utilidade para a instrução e educação, são muitas vezes desgraçadamente subordinados ao fomento dos instintos maus, à avidez do lucro". Em o Papa Pio XII na CARTA ENCÍCLICA MIRANDA PRORSUS, sobre a Divina Providência, publicada aos oito de Setembro de 1957, sobre a Cinematografia, a Rádio e Televisão diz o seguinte: “Não duvidamos, portanto, confiados como estamos na vitória da causa de Deus, que as nossas presentes disposições, cuja fiel execução confiamos à Comissão Pontifícia do Cinema, Rádio e Televisão, hão-de vir a despertar espírito novo de apostolado em campo tão rico de promessas”. Todavia, o tema dos meios de Comunicação social se torna verdadeiramente o foco do anúncio do Evangelho a partir do Concílio Vaticano II. Este Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi aberto sob o papado de João XXIII no dia 11 de outubro de 1962 e terminado sob o papado de Paulo VI em 8 de dezembro de 1965. A partir do Decreto Conciliar Inter Mirifica (Entre as Maravilhas), sobre os meios de comunicação, de 4 de dezembro de 1963, que determina que cada diocese e paróquia, no mundo todo, celebre o Dia Mundial das Comunicações todos os anos, no domingo da Ascensão do Senhor, dava-se início a um novo método de Evangelização. E se inaugura o dia Mundial das Comunicações Sociais. A primeira celebração foi em seis de maio de 1967. De lá pra cá, todos os anos esta data ficou consagrada para celebrar a missão das comunicações. O papa sempre lança uma carta, no dia 24 de janeiro, dia de São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas, com o tema do ano. O Vaticano II foi decisivo na tentativa de a Igreja reconhecer e entender o mundo no qual vivemos, com suas expectativas, seus anseios e suas características. Foi assim que o documento Gaudium et Spes 7 de Dezembro de 1965 publicado por PAULO VI (Sobre a Igreja no Mundo de hoje) chamou a atenção sobre a nova postura da Igreja pela justiça e pela transformação da sociedade como uma dimensão fundamental da evangelização. Numa outra Exortação Apostólica EVANGELII NUNTIANDI PAULO VI, sobre a Evangelização no mundo contemporâneo de 8 de dezembro de 1975, descreve as novas vias de evangelização. Para o sumo pontífice é urgente buscar meios adaptados ao mundo em que vivemos. “No nosso século tão marcado pelos “mass media” ou meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios conforme já tivemos ocasião de acentuar”. Postos ao serviço do Evangelho, tais meios são susceptíveis de ampliar, quase até ao infinito, o campo para poder ser ouvida a Palavra de Deus e fazem com que a Boa Nova chegue a milhões de pessoas. A Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados. É servindo-se deles que ela "proclama sobre os telhados", (Cf Mt 10,27; Lc 12,3) a mensagem de que é depositária. Neles encontra uma versão moderna e eficaz do púlpito. Graças “a eles consegue falar às multidões”. “Entretanto, o uso dos meios de comunicação social para a evangelização comporta uma exigência a ser atendida: é que a mensagem evangélica, através deles, deverá chegar sim às multidões de homens, mas com a capacidade de penetrar na consciência de cada um desses homens, de se depositar nos corações de cada um deles, como se cada um fosse de fato o único, com tudo aquilo que tem de mais singular e pessoal, a atingir com tal mensagem e do qual obter para esta uma adesão, um compromisso realmente pessoal.” (N. 45). Na INSTRUÇÃO PASTORAL "COMMUNIO ET PROGRESSIO" sobre os Meios de Comunicação Social, publicada por mandato do Concilio Ecumênico II do vaticano sob autorização de Paulo II, de 23 de Maio de 1971, alusivo ao Dia Mundial da Comunicação Social, encontramos o seguinte: “Os meios de comunicação social, mesmo quando são dirigidos apenas aos simples indivíduos enquanto tais, não deixam de atingir e afetar toda a sociedade humana. Informam, com efeito, ràpidamente um vasto público sobre tudo aquilo que se passa no mundo: acontecimentos, idéias mentalidade. Revelam-se, portanto como necessários nesta sociedade em que as solidariedades se multiplicam em intimidade e extensão. Daí a incidência que têm neste campo os princípios que regem, segundo a perspectiva cristã, a vida comum dos homens. Com efeito, estes meios técnicos, têm como finalidade ideal, dar a conhecer os problemas e aspirações da sociedade humana, para que sejam satisfeitas o mais ràpidamente possível, contribuindo assim para estreitar os laços de união entre os homens. Ora, este é o princípio fundamental que determina a avaliação crista das possibilidades que aqueles instrumentos oferecem à prosperidade do homem” (N. 6). Vivendo numa sociedade humana continua o documento: “os modernos meios de comunicação reúnem os homens do nosso tempo, como que em mesa redonda, para o convívio fraterno e a ação comum. Na verdade, estes meios suscitam e difundem por toda a parte relações entre os homens e promovem diálogo público e universal. A torrente de informação e opinião, assim movimentada, faz de cada homem um participante no drama, nos problemas e dificuldades do gênero humano; participação que cria, por sua vez, as condições necessárias para a compreensão mútua, que conduz ao progresso de todos. Os meios de comunicação, com os seus rápidos progressos, vão abatendo barreiras que o espaço e o tempo levantavam entre os homens; apresentam-se, portanto como fatores de proximidade e de comunhão. Graças a eles, notícias e conhecimentos de toda a ordem circulam continuamente por toda a terra, permitindo aos homens seguir muito mais ativamente a vida do mundo de hoje. Graças também a eles, novas oportunidades surgiram para a divulgação do ensino a todos os níveis; novas oportunidades, sobretudo para a luta contra o analfabetismo e para a instrução elementar ou educação permanente. Muito podem contribuir também para a promoção e libertação humana nos países menos desenvolvidos. Estabelecem e preservam, além disso, maior igualdade entre os homens, de modo que todas as camadas sociais possam usufruir dos mesmos benefícios culturais e recreativos. Enriquecem finalmente o espírito, pondo-o em contacto, pelo som e pela imagem, com a realidade concreta, ou dando-lhe a possibilidade de reviver situações remotas, quanto a tempo ou lugar. E quando numa região não existe cultura literária, os cidadãos - conservando sempre o apreço pelos valores e costumes da sua cultura tradicional - terão mais ràpidamente ao seu dispor os benefícios da sociedade moderna” (N. 19-20). E sobre a RADIO E TELEVISÃO a carta diz: “A rádio e a televisão, além de darem aos homens um novo processo de comunicar entre si, inauguraram um novo estilo de vida. As suas transmissões atingem em cada dia, novas regiões, saltando sobre barreiras políticas ou culturais. Têm entrada franca nas casas e absorvem a atenção dum público imenso. Os rápidos progressos, sobretudo as transmissões via satélite, e a possibilidade de gravar e retransmitir programas contribuem para libertar a rádio e televisão dos limites do espaço e tempo, e deixam prever que este processo continuará a um ritmo cada vez mais acelerado. A Rádio e Televisão proporcionam aos ouvintes e espectadores distração, cultura e notícias de todo o mundo. Sobretudo o espectador de Televisão acompanha os acontecimentos que se passam no mundo, como se ele mesmo estivesse presente. Finalmente, estes meios de comunicação criam um estilo artístico próprio, que não deixa de influenciar o homem moderno”.(N. 148) Na Igreja Católica, João Paulo II foi um papa que usou freqüentemente os meios de comunicação para transmitir sua imagem e seus projetos. No pontificado de João Paulo II, a Igreja Católica estimulou o projeto de uma "nova evangelização", através dos meios de comunicação. Em diversos países, surgiram redes católicas de televisão, com programas de caráter devocional e de publicidade religiosa. Para João Paulo II, Na Carta Encíclica, REDEMPTORIS MISSIO, sobre a validade permanente do mandato missionário da Igreja de no dia 7 de Dezembro do ano de 1990, nos últimos tempos, os meios de comunicação social forjaram uma humanidade conectada pela palavra, pela imagem e pelos negócios, separando, ao mesmo tempo, por um fosso social, ganhadores e perdedores. É a conseqüência da chamada globalização que, ao mesmo tempo, aproxima e distancia as pessoas. Lê-se entre linha o seu pensamento: o advento da sociedade da informação é uma revolução cultural, que fez dos meios de comunicação o primeiro areópago da idade moderna: “O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na « aldeia global ». Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass-média. Talvez se tenha descuidado um pouco este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass-média foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas secundariamente na programação pastoral. O uso dos mass-média, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato muito mais profundo porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência. Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta « nova cultura », criada pelas modernas comunicações. É um problema complexo, pois esta cultura nasce, menos dos conteúdos do que do próprio fato de existirem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas, novas atitudes psicológicas”(RM,37). Nele, fatos, idéias e valores estão constantemente mudando. Através dos meios de comunicação as pessoas entram constantemente em contato com outras pessoas e acontecimentos, formam as suas opiniões sobre o mundo em que vivem e constroem sua compreensão sobre o significado da vida.Aparentemente, a globalização facilita a atividade missionária: viagens, comunicação etc. Mas o poder da mídia significa também uma nova colonização. Tudo vale para transformar o próximo em cliente e as relações humanas em relações de mercado. O mercado disfarça o preço, destaca o prazer imediato. No Brasil, a Rede Vida nasceu como resposta da Igreja Católica ao crescimento pentecostal. Mesmo admitindo que qualquer opção sectária e de tendência proselitista seja lamentável, esta emissora tem uma conduta diferente de outras emissoras confessionais. Ali, a palavra predomina sobre a imagem. Há muitos programas que se preocupam, por exemplo, com questões de saúde. Mesmo se mantém opções de programação questionáveis, a Rede Vida assume a Ética como uma de suas bandeiras e dá muito espaço à educação, à discussão de idéias no meio da comunidade acadêmica. Com freqüência, são entrevistados professores e intelectuais. Há certa tendência de romper com a cultura de massa e seus valores. Como em qualquer campo do mercado, também na mídia, exacerba-se a disputa de espaços e a concorrência entre canais. Um instrumento disso no âmbito político é o fortalecimento da bancada de deputados que se dizem evangélicos. Do mesmo modo, em algumas regiões do Brasil, grupos católicos falam em eleger seus candidatos. A questão que permanece é se os grupos religiosos dão exemplo de ética no uso dos meios de comunicação e elegem representantes não apenas para defender interesses particulares ou internos e sim o bem de todo o povo. O novo papa, assim que eleito, reuniu a imprensa para agradecer a colaboração na transmissão dos acontecimentos que envolveram a Igreja Católica. Entretanto, as massas que, naqueles dias, acorreram a Roma, não se identificam automaticamente como católicas. Um jornal italiano publicou como título de capa: "Praça cheia, Igrejas vazias". ( http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=16462). Em épocas históricas, quando os meios de comunicação social se reduziam quase apenas à imprensa escrita, ministros eclesiásticos os viam com preconceito. Chegavam a apelidá-los de "sementeiras do mal". Hoje, não só mudou essa visão, como os pastores e suas comunidades não conseguem viver longe de um microfone de rádio e uma câmera da televisão. Há mudanças significativas na sociedade. A reorganização dos espaços urbanos e o conseqüente rearranjo das relações interpessoais impõem uma nova relação entre as pessoas e a mídia. Cada pessoa toma posição em relação à política e ao futuro do mundo, através de informações transmitidas pela mídia que passa a ser também instrumento de mediação nas relações pessoais e sociais. O próprio mercado tem usado expressões religiosas para definir sua política. Igrejas em sua missão e políticos em campanha fazem cursos e aprimoram sua imagem junto aos meios de comunicação. A televisão está criando novas mentalidades e fazendo uma imagem do político que, de certa forma, se torna autônoma da sua prática social e política e resvala para o produto de consumo como qualquer produto que a publicidade vende. No que diz respeito ao religioso, os estúdios substituem os templos e misturam-se reality-show, ficção e liturgia. Fascinado, o público receptor aceita esta mudança simbólica e real provocada, em especial pela televisão, em espetáculos religiosos. Paulo Hebmüller (http://www.wacc-al.net/noticias/guerranada.html), fazendo o comentário do livro, Mídia e Religião na Sociedade do Espetáculo, de organizado por José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi e Ana Claudia Braun Endo, da Universidade metodista de São Paulo, no qual se analisa o crescimento da participação de grupos religiosos na mídia, novo terreno de disputa entre o cristianismo histórico e as igrejas pentecostais, diz “O crescimento das igrejas pentecostais é o fenômeno mais espetacular no panorama religioso da América Latina nas últimas décadas”. Assiste-se a uma Guerra (nada) santa na telinha. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de evangélicos no País – incluídos aí todos os ramos, desde os protestantes históricos até os neopentecostais – passou de 9,05% da população em 1991 para 15,45% no ano 2000. Em números absolutos, de cerca de 13 milhões para aproximadamente 26 milhões de pessoas. Os evangélicos seguem crescendo, mas agora angariando seu público no segmento dos sem-religião – grupo que caiu de 7,4% para 5,1%. “A religiosidade está em alta no Brasil na alvorada do novo milênio”, atestou um relatório divulgado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas. O estudo “Economia das religiões: mudanças recentes” mostra que pela primeira vez em mais de um século a taxa de participação dos católicos deixou de cair e manteve-se “estável no primeiro quarto de década, com 73,79% em 2003”. Enquanto a mais conhecida das denominações neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus, tem construído um verdadeiro império de comunicação, com a TV Record à frente. E segundo Edir Macedo seu fundador, a Record será líder na comunicação no Brasil. Confissões como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer, usam a televisão para criar comunidades. Programas como "Palavra de Vida", "Despertar da fé", "Fala que eu te escuto" e "De Bem com a vida" visam fazer com que, pela emoção, os telespectadores se aproximem se envolvam e se identifiquem com os fatos narrados. Tanto os pastores de igreja eletrônica, como os padres das missas de massa colocam-se no mercado dos bens de salvação, marcando presença nos quadros que Edgar Morin chamou de "o tempo da segunda industrialização, a industrialização dos espíritos, dos sonhos e dos desejos da alma". Diante disto a Igreja Católica busca alternativas na Rádio e na televisão. A guisa de exemplo, hoje são quatro as emissoras católicas do País: Rede Vida, TV Século XXI, Rede Canção Nova e TV Aparecida. Seus perfis procuram dar voz às diferentes correntes, das carismáticas às mais ligadas ao engajamento sociopolítico, que formam o rebanho majoritário do cristianismo brasileiro. A elaboração deste trabalho visa responder a perguntas tais como: por que o número de católico vai diminuindo dia a, pois dia, se os meios de comunicação social católicos estão crescendo? O que estará faltando? Não seria a hora de rever os métodos de sua utilização no processo de evangelização?

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